quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Festival de Curitiba: Concreto armado estreia na Mostra 2014




Uma tragédia carioca

Apontado como um dos mais promissores dramaturgos contemporâneos brasileiros, Diogo Liberano, de 26 anos, retorna ao Festival de Curitiba com “Concreto Armado”, seu quinto trabalho à frente da sua companhia, o Teatro Inominável, do Rio de Janeiro. No espetáculo que estreia nacionalmente na Mostra 2014, uma professora de Arquitetura e Urbanismo, acompanhada por seus alunos de pós-graduação, inicia uma pesquisa sobre Preservação e Restauração do Patrimônio Edificado em um Maracanã em obras, durante os preparativos para a Copa do Mundo.
À medida que se intensifica a investigação sobre a arquitetura de um dos principais símbolos do futebol brasileiro, crescem também, refletidos na vivência dos personagens em cena, os dramas sociais, econômicos e de violência ligados ao embelezamento do estádio às vésperas do campeonato internacional. Está dado, assim, o pano de fundo de “Concreto Armado”, uma peça que não versa sobre a Copa ou sobre futebol, mas sobre os dramas humanos que eclodem a partir deste contexto, envolvidos no texto lírico e vigoro de Liberano.
Com a montagem, o autor e diretor entregam mais uma de suas tragédias cariocas, aos moldes de seus dois trabalhos anteriores: “Maravilhoso”, espetáculo com dramaturgia assinada por ele e dirigido por Inez Viana que estreou no Festival de Curitiba do ano passado, e “Sinfonia Sonho”, peça de 2012 do Teatro Inominável. Esta última tem como ponto de partida o romance “Precisamos Falar sobre Kevin”, de Lionel Shriver, e o massacre de Realengo, ocorrido no Rio de Janeiro.
Foi a partir do atentado ocorrido na escola de Realengo que Liberano percebeu a necessidade de tratar daquilo que acontecia na sua cidade. “Ali nasceu a vontade de falar sobre as forças que desencadeiam estragos imprevisíveis e sobre como chegamos a uma sociedade que se diz democrática, mas que não sabe praticar tal democracia”, comenta. “’Concreto Armado’, de alguma maneira, é sobre isso, mas, principalmente, sobre educação e os fundamentos de uma sociedade, um questionamento sobre o ponto ao qual chegamos”, revela.

A impossibilidade de não ver as coisas

A dramaturgia é assinada pelo diretor em parceria com Keli Freitas. É a primeira vez que ele divide esta tarefa. O processo de construção do texto mescla referências dos autores, atores e envolvidos na produção. “Absorvemos isso para dar o mote da peça, que trata da impossibilidade de não ver as coisas que acontecem todos os dias. Ao longo do processo de criação, saímos às ruas e promovemos ações performáticas que depois trouxemos para a sede da companhia”, conta Liberano. “Isso para falar de vida, do Rio de Janeiro, do Brasil dentro de uma ficção que, talvez, não queira chamar a atenção para o espetacular dos assuntos relacionados à Copa, mas daquilo que está na base do que estamos vendo acontecer”, explica.
Para o diretor, o Maracanã, neste sentido, é o elemento símbolo da “reificação carioca”, isto é, um produto acabado e idolatrado que esconde, na sua base, diversas dinâmicas sociais e econômicas opressivas que desfiguram a democracia e agridem os direitos humanos. “Podemos fingir que, ao contemplá-lo, nada disso importa. Mas o Maracanã sintetiza uma estrutura social que está calcada nesta ideia. O Rio, por suas belezas, só funciona no cartão postal e a vida da cidade não o acompanha. É um duelo injusto que se pretende fazer visível no espetáculo”, diz. Não à toa, a peça se chama “Concreto Armado”, um tipo de concreto que reúne vários componentes para que dê sustentação a edifícios e arquibancadas.
CONCRETO ARMADO
Teatro Paiol
Dias 26 e 27 de março – 21h


Ficha técnica:
Teatro Inominável – Concreto Armado (Rio de Janeiro/RJ)
Direção: Diogo Liberano
Dramaturgia: Diogo Liberano e Keli Freitas
Elenco: Adassa Martins, Andrêas Gatto, Caroline Helena, Flávia Naves, Gunnar Borges, Marina Vianna e Natássia Vello
Direção musical: Luciano Corrêa
Cenário: Elsa Romero
Figurinos: Maria Dalgalarrondo
Iluminação: Renato Machado
Produção: Dani Carvalho e Tamires Nascimento
Realização: Teatro Inominável
Duração: 85 minutos

Fonte: 23. º Festival de Curitiba
Assessoria de Imprensa 
Adriane Perin
Foto: Paula Kossatz

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